Queridos amigos,
Queria só explicar-vos o que significa o logotipo do Monte das Pereiras.
Todos conhecemos bem a parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32).
Gostaria, no entanto, de me centrar na seguinte passagem:
«Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos».
Deste trecho que transcrevo, gosto de parar nestas três palavras que, para mim, fazem toda a diferença: «… caindo em si… ». Mas já lá voltamos.
O Monte das Pereiras é um típico monte, um conjunto agrícola, alentejano. Um grupo de edifícios que, outrora, continha tudo o que era necessário à subsistência de um pequeno núcleo de pessoas: um forno do pão, uma pequena pocilga para o porco que se matava todos os anos, uma horta, uma vacaria, um poço com água, e mesmo um pequeno tanque para se lavar a roupa. A vida simples do campo não precisava de mais. Deste conjunto podia-se tirar o «pão nosso de cada dia», como nos ensina Jesus a pedir no Pai Nosso (cf. Lc 11, 3).
Diz-nos o Papa Francisco comentando a segunda parte da oração dominical, na sua alocução de 27/03/2019, que «esta oração provém de uma evidência que muitas vezes esquecemos, ou seja, que não somos criaturas auto-suficientes, e que todos os dias precisamos de nos alimentar», não só alimentar fisicamente, para que possamos sobreviver, mas também alimentar espiritualmente, para que a vida de Deus possa preencher a nossa alma. Os bens deste mundo são bons em si mesmos, pois, como nos diz o livro do Genesis, «Deus viu tudo o que tinha feito: era tudo muito bom» (Gen 1, 31) e, mesmo que, nesta petição do Pai Nosso, estejam também englobadas todas as graças de que precisamos para progredir na vida espiritual – o “pão nosso” significa, sobretudo, o “pão espiritual” de que tanto necessitamos na nossa caminhada para o Céu –, não podemos esquecer que os bens materiais, sem nos afastar da meta em direcção à qual temos de correr, são úteis à manutenção da nossa vida material e, consequentemente, da nossa vida em Deus.
Ao ensinar-nos a pedir «o pão nosso de cada dia», Jesus ensina-nos que aquilo que Deus, o nosso Pai celeste, mais deseja é que sejamos como crianças, que o chamemos de Abbá, paizinho, e que estejamos sempre prontos a pedir-Lhe o necessário para nosso sustento material e para o nosso crescimento espiritual. Ao contrário do filho pródigo, independente, que pede ao Pai, de uma só vez, a parte que lhe cabe na herança (cf. Lc 15, 12), Nosso Senhor quer que precisemos d’Ele todos os dias, porque só assim, na verdade, vivendo com amor a obediência de filhos, seremos realmente livres.
Continua o Papa Francisco, na sua alocução: «nos Evangelhos encontramos uma multidão de mendigos que suplicam libertação e salvação. Há quem peça o pão, quem peça a cura; alguns a purificação, outros a vista; ou que uma pessoa querida possa reviver… Jesus nunca fica indiferente face a estes pedidos e padecimentos».
É verdade, Jesus nunca fica indiferente ao que lhe pedimos em verdade, com o coração livre.
No entanto, Bento XVI chama-nos à atenção para uma falácia, pois «à medida que o homem cresce e se emancipa, quer libertar-se desta submissão [a Deus] e tornar-se livre, adulto, capaz de se regular sozinho e de fazer as próprias escolhas de modo autónomo, pensando até que pode viver sem Deus. Precisamente esta fase delicada, pode levar ao ateísmo, mas também isto, com frequência, esconde a exigência de descobrir o verdadeiro rosto de Deus. Felizmente, Deus nunca falta à sua fidelidade e, mesmo se nós nos afastamos e nos percamos, continua a seguir-nos com o seu amor, perdoando os nossos erros e falando interiormente à nossa consciência para nos chamar a si».
O Monte das Pereiras, em tempos, fornecia tudo aquilo que de material poderíamos precisar. Hoje, em vista deste projecto de reabilitação, e de adaptação a centro de espiritualidade e cultura, Deus – assim o pedimos – quer providenciar a tudo aquilo que é necessário à nossa salvação.
Daqui pode começar a vislumbrar-se o significado do logotipo que idealizámos para o monte… temos uma azinheira, temos os porcos e temos um homem em oração; temos também as palavras de Bento XVI que nos assegura que «Deus nunca falta à sua fidelidade […] falando interiormente à nossa consciência para nos chamar a si»; temos o filho pródigo, no exacto momento em que, como nos diz o Evangelho, caiu em si, e percebeu que só através da experiência da misericórdia, «só experimentando o perdão, só reconhecendo-nos amados por um amor gratuito, maior do que a nossa miséria, mas também maior do que a nossa justiça, entramos finalmente num relacionamento deveras filial e livre com Deus» (Bento XVI, Angelus, 14/03/2010).
Deus, pelo Seu divino auxílio, é a causa primeira que nos move em direcção à conversão e à bem aventurança eterna. São Tomás de Aquino diz-nos claramente que «ita etiam non licet sperare de aliquo homine, vel de aliqua creatura, sicut de agente secundario et instrumentali, per quod aliquis adjuvatur ad qæcumquæ bona consequenda in beatitudinem ordinata».
É isto que o Monte das Pereiras e todos os que nele cooperarem pretendem ser, um agente secundário, que colabore com aquele “divinum auxilium” que nos move primeiramente à conversão, como acontece com o filho pródigo do nosso logotipo, representado naquele exacto momento em que cai em si e, movido pela graça de Deus, quer regressar à casa do Pai.
Esta poderia ser a frase escrita à entrada do monte, como princípio de actuação: “Aqui Jesus acolhe os pecadores e os convida à sua mesa”.
Na minha vida – até pela minha própria experiência de fragilidade –, cada vez tenho mais certo que “Deus […] não se resigna, a ele importa precisamente tu que ainda não conheces a beleza de seu amor, tu que ainda não acolhestes Jesus no centro da tua vida, tu que não consegues superar o teu pecado, tu que, talvez, pelas coisas más que aconteceram na tua vida, não acreditas no amor.” (cf. Papa Francisco, Angelus, 15/09/2019).
É este, o nosso objectivo: através deste projecto transmitir o amor de Deus a todos os que dele necessitam e que nos batem à porta. E não é transmitir algo de forma teórica, é transmitir algo vivencial, como sugere o mote que escolhi para a minha vida sacerdotal: «dirupisti, Domine, vincula mea; tibi sacrificabo hostiam laudis», «quebrastes, Senhor as minhas cadeias: oferecer-Vos-ei, em sacrifício, uma oferenda de louvor» (Sal 115, 16).
«Que Nossa Senhora, que desata os nós da vida, nos liberte da pretensão de acreditar que somos justos e nos faça sentir a necessidade de ir até o Senhor, que nos espera sempre para nos abraçar, para nos perdoar» (Papa Francisco, idem). Assim seja.
Pe. António Vasco Borges Coutinho
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O nosso muito obrigado!